Elisa com raquete e depois chuteiras: algo raro
Algumas biografias esportivas são cheias de drama e sofrimento. Outras, com incríveis histórias de superação. Elisa Brito, meia do CEPE Caxias, foi além: saiu do tênis, onde era destaque nacional, para o futebol e a Seleção Sub-17. Como isso ocorreu? Poderão conferir numa bela entrevista da "garota prodígio", dividida em três partes. A 1ª parte foca, justamente, essa transição. Confiram!
FM - O que veio primeiro: o futebol ou o tênis?
Elisa - Bom, o futebol sempre esteve presente na minha vida de alguma forma. Eu sempre brincava, até pelo fato de ter um irmão mais velho que sempre jogou, isto é, aquilo me atraia de alguma forma. Tudo que é relacionado a esporte sempre me fez ter interesse. Desde pequena comecei a surfar, fazia aula de tudo: vôlei, tênis, enfim... Fiz escolinhas de futsal quando pequena e quando mais velha joguei por Teresópolis. Mas há cerca de dois anos comecei a me dedicar ao tênis, treinava muito, viajava sempre. Fui número 1 do Estado durante os dois anos e bem ranqueada no país. Fui convidada pra treinar numa academia excelente em Niterói, para onde eu iria esse ano. Tudo estava caminhando muito bem para mim e até outubro de 2007. Tudo estava confirmado para que eu me mudasse para lá em 2008.
Porém, no final de setembro, se não me engano, quase início de outubro, em um torneio profissional que eu estava jogando aqui no Rio mesmo, minha mãe, conversando com uma moça, comentou que eu jogava futsal e tudo mais. Então ela falou que iria tentar um teste para mim em algum time. Nem me empolguei muito porque não pretendia parar com o tênis. Pretendia seguir carreira e tudo estava dando certo. Naquele momento queria aquilo para a minha vida, como profissão. Dias depois, ela ligou para minha casa, e comunicou que dois dias depois (não tenho certeza) teria um teste para Seleção Brasileira Sub-17. Eu pensei muito se iria ou não, até porque fazia mais de cinco meses que eu não jogava nem futsal. Realmente, só via bolinha de tênis na minha frente. O máximo que eu andava fazendo de parecido com futebol naquele momento era embaixadinha com bolinha de tênis nos intervalos de treinos.
Depois de pensar, resolvi participar, achando que não custaria nada, mas nunca imaginei que passaria. Nunca havia colocado uma chuteira de trava na vida, nem entrado num campo de futebol para jogar. Resumindo: nunca tinha jogado futebol de campo na vida, era algo completamente novo pra mim. Cheguei ao local, fiz o teste e passei. Realmente, quando vi meu nome, não acreditei, era algo que nunca imaginei que iria acontecer, mas aconteceu. O que eu senti naquele momento não consigo descrever. Fui convocada e vi o que queria para minha vida: o futebol. Vendo isso, larguei o tênis e toda a caminhada que por mim estava sendo prevista, e optei pelo futebol. Hoje vejo que foi a melhor coisa que eu fiz na vida.
FM - Você teve mais contato com o futsal. O que ele te ajuda para o momento em que vive, que é o foco no campo?
Elisa - Na minha visão, o futsal dá muita base e desenvolve muito tecnicamente o jogador. Além do fato de ser um jogo bem mais dinâmico que o campo, o que, em minha opinião, desenvolve muito o raciocínio.
Na minha situação, ajudou muito, e por causa de toda base que tive não encontrei dificuldades técnicas de adaptação no campo. Lógico que tenho muito a melhorar, mas essa base já contribuiu muito. Não tenho duvida que foi pela base conseguida no futsal, que cheguei a seleção.
FM - Você vem de uma família de classe média. O futebol tem, majoritariamente, atletas com uma origem social menos abastada. Como você assimilou - para quem veio do aristocrático tênis – essa mudança de ambiente?
Elisa - Quando entrei para o futebol, eu senti certa diferença, até mesmo no jeito de agir, conversar, pois no tênis, por ser um esporte considerado de elite, as pessoas são mais contidas, devido às regras do próprio esporte, que não admitem certas atitudes, que são permitidas no futebol. A diferença social realmente é gritante, e não tem como negar, mas para mim isso não diferencia as pessoas e eu consegui me adaptar bem. Todos merecem respeito de alguma forma, serem julgados pelo que são e não pelo que elas têm. Reconheço que existe essa diferença de classe social entre mim e a maior parte das meninas do meio. Mas não me incomoda, pois convivo muito bem com a maioria. Não nego que sinto algumas formas de preconceito por parte delas em relação a minha pessoa. Já ouvi comentários que me incomodaram, como por exemplo: "o que essa menina está fazendo aqui! Tem dinheiro, condição e está tirando oportunidade de quem necessita". Só que eu queria deixar bem claro uma coisa: eu não jogo futebol por dinheiro e sim por amor.
FM - A sua chegada a seleção sub-17 foi o verdadeiro marco de sua transição tênis/futebol? Foi o que acendeu a chama?
Elisa - Sem dúvida. A convocação foi realmente algo que nunca imaginei acontecer, principalmente naquele momento que eu estava vivendo, de tanta dedicação ao tênis. Confesso que ao ver meu nome na lista eu chorei, e vi que a minha vida era o futebol. Mesmo sabendo de todas as dificuldades que ainda irão surgir, eu sei que esse é meu caminho.
FM - Quais suas características de jogo? Descreva suas qualidades e o que precisa melhorar como atleta de futebol.
Elisa - Eu tenho um jogo num estilo clássico, que une bom porte físico (o que, em minha opinião, é uma vantagem e importante característica para um meia) raciocínio rápido, boa técnica, visão de jogo e boa finalização. Tenho como um exemplo e inspiração, o ex jogador Zinedine Zidane. Em minha opinião, o futebol é a arte de fazer o simples. Sem dúvida, quando eu preciso utilizar da habilidade eu o faço, mas sempre com objetividade, nunca por "firula". Em relação a melhora, acho que todo mundo sempre precisa melhorar em todos os aspectos, nunca ninguém está completamente pronto ou perfeito. Mas se for destacar um aspecto, destacaria o físico, que eu encontrei dificuldade no começo da transição para o futebol, até porque tênis e futebol são coisas completamente diferentes. Eu estou me dedicando muito nesse aspecto, já evolui bastante. Posso dizer que hoje sou outra pessoa em campo e continuarei trabalhando forte, nesse ponto e em todos os outros.
Elisa - Bom, o futebol sempre esteve presente na minha vida de alguma forma. Eu sempre brincava, até pelo fato de ter um irmão mais velho que sempre jogou, isto é, aquilo me atraia de alguma forma. Tudo que é relacionado a esporte sempre me fez ter interesse. Desde pequena comecei a surfar, fazia aula de tudo: vôlei, tênis, enfim... Fiz escolinhas de futsal quando pequena e quando mais velha joguei por Teresópolis. Mas há cerca de dois anos comecei a me dedicar ao tênis, treinava muito, viajava sempre. Fui número 1 do Estado durante os dois anos e bem ranqueada no país. Fui convidada pra treinar numa academia excelente em Niterói, para onde eu iria esse ano. Tudo estava caminhando muito bem para mim e até outubro de 2007. Tudo estava confirmado para que eu me mudasse para lá em 2008.
Porém, no final de setembro, se não me engano, quase início de outubro, em um torneio profissional que eu estava jogando aqui no Rio mesmo, minha mãe, conversando com uma moça, comentou que eu jogava futsal e tudo mais. Então ela falou que iria tentar um teste para mim em algum time. Nem me empolguei muito porque não pretendia parar com o tênis. Pretendia seguir carreira e tudo estava dando certo. Naquele momento queria aquilo para a minha vida, como profissão. Dias depois, ela ligou para minha casa, e comunicou que dois dias depois (não tenho certeza) teria um teste para Seleção Brasileira Sub-17. Eu pensei muito se iria ou não, até porque fazia mais de cinco meses que eu não jogava nem futsal. Realmente, só via bolinha de tênis na minha frente. O máximo que eu andava fazendo de parecido com futebol naquele momento era embaixadinha com bolinha de tênis nos intervalos de treinos.
Depois de pensar, resolvi participar, achando que não custaria nada, mas nunca imaginei que passaria. Nunca havia colocado uma chuteira de trava na vida, nem entrado num campo de futebol para jogar. Resumindo: nunca tinha jogado futebol de campo na vida, era algo completamente novo pra mim. Cheguei ao local, fiz o teste e passei. Realmente, quando vi meu nome, não acreditei, era algo que nunca imaginei que iria acontecer, mas aconteceu. O que eu senti naquele momento não consigo descrever. Fui convocada e vi o que queria para minha vida: o futebol. Vendo isso, larguei o tênis e toda a caminhada que por mim estava sendo prevista, e optei pelo futebol. Hoje vejo que foi a melhor coisa que eu fiz na vida.
FM - Você teve mais contato com o futsal. O que ele te ajuda para o momento em que vive, que é o foco no campo?
Elisa - Na minha visão, o futsal dá muita base e desenvolve muito tecnicamente o jogador. Além do fato de ser um jogo bem mais dinâmico que o campo, o que, em minha opinião, desenvolve muito o raciocínio.
Na minha situação, ajudou muito, e por causa de toda base que tive não encontrei dificuldades técnicas de adaptação no campo. Lógico que tenho muito a melhorar, mas essa base já contribuiu muito. Não tenho duvida que foi pela base conseguida no futsal, que cheguei a seleção.
FM - Você vem de uma família de classe média. O futebol tem, majoritariamente, atletas com uma origem social menos abastada. Como você assimilou - para quem veio do aristocrático tênis – essa mudança de ambiente?
Elisa - Quando entrei para o futebol, eu senti certa diferença, até mesmo no jeito de agir, conversar, pois no tênis, por ser um esporte considerado de elite, as pessoas são mais contidas, devido às regras do próprio esporte, que não admitem certas atitudes, que são permitidas no futebol. A diferença social realmente é gritante, e não tem como negar, mas para mim isso não diferencia as pessoas e eu consegui me adaptar bem. Todos merecem respeito de alguma forma, serem julgados pelo que são e não pelo que elas têm. Reconheço que existe essa diferença de classe social entre mim e a maior parte das meninas do meio. Mas não me incomoda, pois convivo muito bem com a maioria. Não nego que sinto algumas formas de preconceito por parte delas em relação a minha pessoa. Já ouvi comentários que me incomodaram, como por exemplo: "o que essa menina está fazendo aqui! Tem dinheiro, condição e está tirando oportunidade de quem necessita". Só que eu queria deixar bem claro uma coisa: eu não jogo futebol por dinheiro e sim por amor.
FM - A sua chegada a seleção sub-17 foi o verdadeiro marco de sua transição tênis/futebol? Foi o que acendeu a chama?
Elisa - Sem dúvida. A convocação foi realmente algo que nunca imaginei acontecer, principalmente naquele momento que eu estava vivendo, de tanta dedicação ao tênis. Confesso que ao ver meu nome na lista eu chorei, e vi que a minha vida era o futebol. Mesmo sabendo de todas as dificuldades que ainda irão surgir, eu sei que esse é meu caminho.
FM - Quais suas características de jogo? Descreva suas qualidades e o que precisa melhorar como atleta de futebol.
Elisa - Eu tenho um jogo num estilo clássico, que une bom porte físico (o que, em minha opinião, é uma vantagem e importante característica para um meia) raciocínio rápido, boa técnica, visão de jogo e boa finalização. Tenho como um exemplo e inspiração, o ex jogador Zinedine Zidane. Em minha opinião, o futebol é a arte de fazer o simples. Sem dúvida, quando eu preciso utilizar da habilidade eu o faço, mas sempre com objetividade, nunca por "firula". Em relação a melhora, acho que todo mundo sempre precisa melhorar em todos os aspectos, nunca ninguém está completamente pronto ou perfeito. Mas se for destacar um aspecto, destacaria o físico, que eu encontrei dificuldade no começo da transição para o futebol, até porque tênis e futebol são coisas completamente diferentes. Eu estou me dedicando muito nesse aspecto, já evolui bastante. Posso dizer que hoje sou outra pessoa em campo e continuarei trabalhando forte, nesse ponto e em todos os outros.
Um comentário:
História inusitada!!
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