quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Debate sobre a final do Mundial


Comento as observações do excelente Ubiratan Leal, jornalista da Trivela, sobre a derrota brasileira na final da Copa do Mundo (publicadas no blog do veículo e no Balípodo – links ao lado). Como pinço essas colocações de forma fragmentada e seletiva, há sempre algum perigo de mal entendidos. Mesmo assim, acredito que valha a pena o salutar exercício do debate:

Ubiratan: “Sim, o Brasil perdeu por inferioridade tática. A Alemanha esteve muito mais organizada em campo e sabia como tirar proveito dos pontos fracos do Brasil.”

Mozart: Não vi superioridade tática de nenhum dos lados. Houve alternâncias num duelo de imposição de estilos, e a Alemanha aproveitou o melhor momento no início da etapa complementar numa intensa marcação por pressão. Escapou ilesa do domínio brasileiro no 1º tempo.

Aliás, esse Brasil apresentou uma organização e uma disposição física inacreditáveis para uma equipe que pouco treinou e jogou desde Atenas. Não ficou devendo para nenhuma seleção nesses aspectos. Não foi apenas uma “reunião de talentos” como jogadoras e comissão técnica dos EUA, talvez, equivocadamente, pensassem antes da derrota.

Ubiratan: “Uma das razões para a inferioridade tática do Brasil é simples: falta campeonato aqui. A seleção brasileira não existe como time (é formada quando há torneio importante, mas não disputa torneios menores ou amistoso constantemente) e muitas das jogadoras não têm experiência de jogo competitivo. Assim, dificuldade em se adaptar à partida e lapsos de concentração são mais comuns.”

Mozart: Reitero que não vi inferioridade tática, nem física e muito menos técnica (surpreendente, dada a situação caótica até três meses atrás). Tanto que o que a Alemanha fez no 1º tempo foi respeitar o Brasil e dar a posse de bola, ao tentar correr o menor risco possível e especular nas saídas em velocidade. A falta de campeonatos, amistosos e maior experiência é um dado indiscutível.

Isso conta na estrutura macro, principalmente. Mas atribuir essa carência a derrota é algo, também, questionável. As brasileiras, apesar de tudo, chegaram bem preparadas na Ásia. Poderia citar que na partida diante dos EUA, tivemos um duelo entre a bastante inexperiente Ester contra as “rodadas” jogadoras americanas e o saldo foi bem positivo. Ela dominou o meio-campo. O 1º gol alemão saiu em buraco deixado por Tânia, que tem quatro mundiais e três Olimpíadas nas costas. Apesar do descaso da CBF, o Brasil mantém uma base tanto de jogadoras quanto do esquema, consolidado em Atenas por Renê Simões.

Ubiratan: “Enquanto isso não ocorrer, o Brasil dependerá de sorte para superar a Alemanha. Formar um time forte como o que conquistou o vice mundial foi um pouco disso. Conseguir um pênalti injusto no segundo tempo, também. Mas precisa de mais. Seria mais fácil fazer um projeto sério e não ter de contar com o acaso ou o talento de quem não tem apoio”.

Mozart: Alguns veículos da imprensa alemã avaliaram que a seleção local teve dose de sorte de sair sem tomar gols no 1º tempo e ver Marta perder penalidade, algo muito difícil de repetir na carreira da genial camisa 10. Sem oba-oba “ufanístico”, o Brasil mostrou que tem condições de derrotar qualquer adversário por mérito. Vencer os EUA por 4 a 0 - depois de 51 partidas invictas das americanas - sepulta qualquer dúvida sobre o potencial brasileiro em todos os aspectos do jogo. A penalidade também foi bem clara, com uma carga pelas costas na Cristiane.

Enfim, o velho clichê "perdeu no detalhe" até caberia após uma partida como a da final do Mundial. A linha foi muito tênue entre as equipes para atribuirmos de forma seca a um fator A ou B, embora a considerar todos os problemas que essas meninas têm para exercer sua profissão e a série de reivindicações para a melhoria de um quadro ainda muito aquém do necessário. Situações graves e crônicas que, certamente, dificultam as conquistas desses espetaculares resultados internacionais.

Por outro lado, o cenário nos próximos anos parece ser favorável para a seleção, dada a juventude de suas estrelas, e a aparente falta de renovação qualificada dos adversários. A (falta de) estrutura, os investimentos pífios “patrocinados” pela administração desastrada da CBF, comprometem a modalidade quando pensamos em longo prazo, mas a seleção brasileira conseguira sublimar parte disso, por ter um grupo talentoso e esforçado, onde três meses de treinamentos intensivos puderam modificar o quadro, como vimos nesse 2007.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Fabiana perto de voltar


A jovem atacante Fabiana, de 18 anos, está perto de voltar ao Sporting de Huelva, após ter problemas burocráticos e ser impedida de disputar as primeiras rodadas do Campeonato Espanhol. Destaque do último Mundial sub-20, na Rússia, a baiana deve integrar também a próxima seleção da categoria como grande referência, ao lado da goleira Bárbara.


Fabiana pode ser muito importante como opção para as aposentadorias (na seleção) de Pretinha e Kátia. Com um estilo "rompedor", pode fazer estragos em qualquer defesa, e seria uma atleta com características distintas em relação aos prodígios Cristiane e Marta.


Vale lembrar que o Huelva tem a goleira brasileira Thaís como titular. Logo a loira estará nesse blog por meio de uma interessante entrevista.

domingo, 28 de outubro de 2007

Parabéns, ESPN Brasil!


Mais uma vez a emissora se colocou na vanguarda midática no apoio aos abnegados e abnegadas que continuam lutando para a melhoria do futebol feminino brasileiro. O programa "Histórias do Esporte" - apresentado por Luis Alberto Volpe - foi franco e direto, de acordo com a linha do blog: existe a CBF para atrapalhar e os trabalhadores incansáveis que tentam levar a coisa adiante.


Foram várias histórias que contaram um pouco da saga de técnicos e jogadoras. Menção para Edson Galdino, do CEPE Caxias, Edson Castro, do Botucatu, Kleiton Lima, do Santos FC e Magali Fernandes, do Clube Atlético Juventus. Todos deram depoimentos corajosos para que possamos entender melhor o que se passa nos bastidores. Algumas jogadoras, sobretudo as da seleção, expressam a face do medo. E entendemos que não é fácil ter de viver no dilema entre desejar jogar na espetacular e encantadora equipe brasileira e expor os desmandos patrocinados pela CBF. Muito compreensível que toquem no assunto como se estivessem carregando uma caixa de cristais fragilíssimos. Não podemos esquecer que a retaliação e o revanchismo são praxe.


Fora do foco do programa, fiquei bastante curioso sobre o prodígio que treina no Clube Atlético Juventus. Thaís Duarte - jovem de 13/14 anos - parece conhecer muito do ofício. Este blog vai conferir os próximos passos da ferinha, não tenham dúvida.


Reitero minha admiração por esses Jornalistas - com jota maiúsculo mesmo - que dão a cara pra bater. Parabéns ao Trajano, sempre sensível à causa. E o que poderíamos dizer do sistema Globo/Sportv? Pensando melhor, não vamos estragar o post, não é?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

"El bigodón": até quando?


Domingo, 22 horas, tem um programa imperdível sobre futebol feminino na ESPN Brasil: Histórias do Esporte, apresentado pelo experiente e laureado Helvídio Mattos. A interrogação da atração é "até quando" o descaso e a omissão dos dirigentes da Barra? Numa prévia que foi ao ar ainda há pouco, Edson Castro, técnico da boa equipe de Botucatu, cita a pérola de Américo Faria, 'El bigodón", que se refere às agremiações brasileiras da modalidade como "timinhos".

Mais uma vez, o absurdo do desrespeito com os abnegados que sustentam - respirando com a ajuda de aparelhos - o futebol feminino brasileiro. Além de todo o trabalho com quase nada de apoio, têm de aturar a administração incompetente e omissa da CBF, simbolizada por "El bigodón", um aproveitador que representa o que há de mais arcaico na área. Esses "dirigentinhos"...

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

China pode ser o destino de Barcellos


O técnico Jorge Barcellos, vice-campeão mundial com a seleção brasileira, é um dos cotados para dirigir a China já nos Jogos Olímpicos. Com a intermediação do empresário gaúcho Eduardo Ponticelli, que mora em Xangai, inciaria o trabalho após a decepcionante campanha das donas da casa na Copa do Mundo, que acarretou a demissão da sueca Marika Domanski . Entretanto, a francesa Elisabeth Loisel ainda é a preferida dos dirigentes locais.

Sem dúvida, seria um ótimo prêmio pelo bom trabalho realizado com Marta e cia, desde o Pan. Por falar nisso, a CBF já quitou a premiação das meninas? Vai continuar com seu investimento pífio e pagando os profisisonais apenas durante treinos e competições? Pensa em alguém capacitado para, se preciso, substituí-lo? Com a palavra os nossos amados cartolas da Barra...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Recapitulação - Pré-Pan



Relembro artigo que escrevi para o blag do Mauro Beting em julho (publicado também no blog do Paulinho), onde abordara as perspectivas para o Pan do Rio. A bela história todos conhecem, embora o descaso não deva jamais ser eclipsado pela euforia ufanista.


Exílio ou clandestinidade?



Evidente que não são duas das opções mais agradáveis que uma pessoa possa escolher.Assim como foi o dilema enfrentado por militantes que reivindicavam um país mais justo durante a ditadura militar tupiniquim, até a "abertura" em 1979, essa é, também, a situação das valentes jogadoras de futebol feminino do Brasil (sem data pra acabar ainda, infelizmente).

Quem teve a "sorte" de poder se exibir internacionalmente – com qualidade – consegue contrato para poder viver exclusivamente da modalidade, uma minoria; quem não obteve essa "graça" acaba perambulando pelos campos e quadras nacionais, quando são constantemente tentadas a abandonar o esporte.Relegadas ao 4º plano por CBF e COB, que apresentam sua indiferença simpática quando necessário (sobretudo em época de Mundial e Olimpíada), ainda têm de conviver com o famigerado preconceito (será que nunca ninguém pensou numa campanha institucional para tentar eliminar essa praga?).

Os grandes resultados internacionais – especialmente a prata em Atenas - frente todas as dificuldades são produto não mais do que uma estrutura informal gerada pela massificação do futebol no Brasil, que reflete também entre as meninas, além de "espasmos" de bons trabalhos, como ocorreu com esse time medalhista olímpico.Falta lapidação, formação específica de profissionais, treinamento qualificado, mais e melhores competições, isto é, a estrutura formal, o outro lado da moeda, que abrigaria as interessadas em jogar, os talentos.

Historicamente, a Federação Paulista tem apoiado algumas iniciativas de organizar campeonatos e até mandou uma seleção estadual pra Queen Peace Cup 2006, que contou com Dinarmarca, Canadá e EUA com equipes completas, entre outras forças mundiais. Já a CBF, ao fornecer sua estrutura na Granja Comary, não faz mais que a obrigação e, às vezes, me força a pensar que mandar equipes femininas pra competições internacionais se torna uma mera formalidade no intuito de evitar um vexame pela possível ausência.

Ao indicar, em determinado período, Américo Faria como supervisor, vejo como chacota com quem acompanha a modalidade. A não manutenção de Renê Simões, que organizou razoavelmente a coisa em 2004, outro descalabro.Quem vê o discurso farisaico sobre o futebol feminino por parte de alguns cartolas que despacham na luxuosa sede da entidade na Barra da Tijuca, tende a ser ludibriado, afinal "estamos dando todas as condições para as atletas".Se alguma delas esboçar uma postura crítica, é escanteada imediatamente (como já aconteceu, inclusive).

Feitas as ressalvas, o desabafo, o Pan do Rio e o Mundial estão aí e teremos, apesar de tudo, força máxima. As grandes jogadoras, de diferentes gerações, estarão em campo: Formiga, Tânia, Pretinha, Kátia Cilene (que foram a Atlanta-96) se somam a Andréia, Rosana, Daniela Alves (estavam em Sidney-2000), que encontram Marta, Cristiane, Renata Costa (Atenas- 2004) chegando até a espetacular guarda-metas pernambucana Bárbara - 3ª colocada no Mundial sub-20 do ano passado.Jorge Barcellos, o técnico, vem fazendo bons treinos e escala a equipe num ofensivo 3-5-2, usando Renata Costa, que é volante de bom passe, como líbero.Mesmo sem Marta (apenas a melhor do Mundo em 2006 pela FIFA) e Elaine, que jogam no UMEA sueco e só serão liberadas depois de uma rodada de meio de semana pelo Campeonato Nacional, a reposição tem qualidade pra sustentar o nível.O Canadá deverá ser o grande adversário brasileiro no Rio de Janeiro, mesmo considerando que a Argentina aprontou (venceu o Brasil) no Sul-americano de Mar del Plata em 2006 e os EUA, ainda que com a sub-20, nunca pode ser descartado.

De qualquer forma, a margem de erro das meninas é sempre mínima, pois precisam vencer tudo, com esse pequeno apoio, para poderem aspirar um melhor horizonte e alguma visibilidade midiática. Tarefa pra lá de hercúlea. Entretanto, jamais ousem duvidar da força interior dessas guerreiras quem vêm sofrendo anos a fio. Se a redemocratização do páis é um processo em desenvolvimento, no futebol mal superamos a segregação de gênero.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Mocinhos e bandidos


Quando o assessor de imprensa da CBF se manifestou sobre o documento em que as jogadoras da seleção brasileira denunciaram o estado de coisas lamentável da modalidade após a disputa do Mundial da China, acabou por resumir toda a hipocrisia e a desfaçatez da entidade que dirige(?) o futebol brasileiro. A CBF, ou "o mocinho da história", como prefere Rodrigo Paiva, faz tipo para a imprensa oficial (nós sabemos muito bem quem é), que mais uma vez realizará uma cobertura "cor-de-rosa" (ou chapa branca?) dos desdobramentos do caso. Entretanto, esse blog estará sempre com disposição para incomodar bajuladores e bajulados do futebol feminino brasileiro. Como não sou afeito a maniqueísmos - expediente do nobre assessor - prefiro uma singela saudação: Alvíssaras!
!