terça-feira, 23 de outubro de 2007

Recapitulação - Pré-Pan



Relembro artigo que escrevi para o blag do Mauro Beting em julho (publicado também no blog do Paulinho), onde abordara as perspectivas para o Pan do Rio. A bela história todos conhecem, embora o descaso não deva jamais ser eclipsado pela euforia ufanista.


Exílio ou clandestinidade?



Evidente que não são duas das opções mais agradáveis que uma pessoa possa escolher.Assim como foi o dilema enfrentado por militantes que reivindicavam um país mais justo durante a ditadura militar tupiniquim, até a "abertura" em 1979, essa é, também, a situação das valentes jogadoras de futebol feminino do Brasil (sem data pra acabar ainda, infelizmente).

Quem teve a "sorte" de poder se exibir internacionalmente – com qualidade – consegue contrato para poder viver exclusivamente da modalidade, uma minoria; quem não obteve essa "graça" acaba perambulando pelos campos e quadras nacionais, quando são constantemente tentadas a abandonar o esporte.Relegadas ao 4º plano por CBF e COB, que apresentam sua indiferença simpática quando necessário (sobretudo em época de Mundial e Olimpíada), ainda têm de conviver com o famigerado preconceito (será que nunca ninguém pensou numa campanha institucional para tentar eliminar essa praga?).

Os grandes resultados internacionais – especialmente a prata em Atenas - frente todas as dificuldades são produto não mais do que uma estrutura informal gerada pela massificação do futebol no Brasil, que reflete também entre as meninas, além de "espasmos" de bons trabalhos, como ocorreu com esse time medalhista olímpico.Falta lapidação, formação específica de profissionais, treinamento qualificado, mais e melhores competições, isto é, a estrutura formal, o outro lado da moeda, que abrigaria as interessadas em jogar, os talentos.

Historicamente, a Federação Paulista tem apoiado algumas iniciativas de organizar campeonatos e até mandou uma seleção estadual pra Queen Peace Cup 2006, que contou com Dinarmarca, Canadá e EUA com equipes completas, entre outras forças mundiais. Já a CBF, ao fornecer sua estrutura na Granja Comary, não faz mais que a obrigação e, às vezes, me força a pensar que mandar equipes femininas pra competições internacionais se torna uma mera formalidade no intuito de evitar um vexame pela possível ausência.

Ao indicar, em determinado período, Américo Faria como supervisor, vejo como chacota com quem acompanha a modalidade. A não manutenção de Renê Simões, que organizou razoavelmente a coisa em 2004, outro descalabro.Quem vê o discurso farisaico sobre o futebol feminino por parte de alguns cartolas que despacham na luxuosa sede da entidade na Barra da Tijuca, tende a ser ludibriado, afinal "estamos dando todas as condições para as atletas".Se alguma delas esboçar uma postura crítica, é escanteada imediatamente (como já aconteceu, inclusive).

Feitas as ressalvas, o desabafo, o Pan do Rio e o Mundial estão aí e teremos, apesar de tudo, força máxima. As grandes jogadoras, de diferentes gerações, estarão em campo: Formiga, Tânia, Pretinha, Kátia Cilene (que foram a Atlanta-96) se somam a Andréia, Rosana, Daniela Alves (estavam em Sidney-2000), que encontram Marta, Cristiane, Renata Costa (Atenas- 2004) chegando até a espetacular guarda-metas pernambucana Bárbara - 3ª colocada no Mundial sub-20 do ano passado.Jorge Barcellos, o técnico, vem fazendo bons treinos e escala a equipe num ofensivo 3-5-2, usando Renata Costa, que é volante de bom passe, como líbero.Mesmo sem Marta (apenas a melhor do Mundo em 2006 pela FIFA) e Elaine, que jogam no UMEA sueco e só serão liberadas depois de uma rodada de meio de semana pelo Campeonato Nacional, a reposição tem qualidade pra sustentar o nível.O Canadá deverá ser o grande adversário brasileiro no Rio de Janeiro, mesmo considerando que a Argentina aprontou (venceu o Brasil) no Sul-americano de Mar del Plata em 2006 e os EUA, ainda que com a sub-20, nunca pode ser descartado.

De qualquer forma, a margem de erro das meninas é sempre mínima, pois precisam vencer tudo, com esse pequeno apoio, para poderem aspirar um melhor horizonte e alguma visibilidade midiática. Tarefa pra lá de hercúlea. Entretanto, jamais ousem duvidar da força interior dessas guerreiras quem vêm sofrendo anos a fio. Se a redemocratização do páis é um processo em desenvolvimento, no futebol mal superamos a segregação de gênero.

Um comentário:

Unknown disse...

Este é Mozart, nome de craque, trabalho de operário qualificado.