Comento as observações do excelente Ubiratan Leal, jornalista da Trivela, sobre a derrota brasileira na final da Copa do Mundo (publicadas no blog do veículo e no Balípodo – links ao lado). Como pinço essas colocações de forma fragmentada e seletiva, há sempre algum perigo de mal entendidos. Mesmo assim, acredito que valha a pena o salutar exercício do debate:
Ubiratan: “Sim, o Brasil perdeu por inferioridade tática. A Alemanha esteve muito mais organizada em campo e sabia como tirar proveito dos pontos fracos do Brasil.”
Mozart: Não vi superioridade tática de nenhum dos lados. Houve alternâncias num duelo de imposição de estilos, e a Alemanha aproveitou o melhor momento no início da etapa complementar numa intensa marcação por pressão. Escapou ilesa do domínio brasileiro no 1º tempo.
Aliás, esse Brasil apresentou uma organização e uma disposição física inacreditáveis para uma equipe que pouco treinou e jogou desde Atenas. Não ficou devendo para nenhuma seleção nesses aspectos. Não foi apenas uma “reunião de talentos” como jogadoras e comissão técnica dos EUA, talvez, equivocadamente, pensassem antes da derrota.
Ubiratan: “Uma das razões para a inferioridade tática do Brasil é simples: falta campeonato aqui. A seleção brasileira não existe como time (é formada quando há torneio importante, mas não disputa torneios menores ou amistoso constantemente) e muitas das jogadoras não têm experiência de jogo competitivo. Assim, dificuldade em se adaptar à partida e lapsos de concentração são mais comuns.”
Mozart: Reitero que não vi inferioridade tática, nem física e muito menos técnica (surpreendente, dada a situação caótica até três meses atrás). Tanto que o que a Alemanha fez no 1º tempo foi respeitar o Brasil e dar a posse de bola, ao tentar correr o menor risco possível e especular nas saídas em velocidade. A falta de campeonatos, amistosos e maior experiência é um dado indiscutível.
Isso conta na estrutura macro, principalmente. Mas atribuir essa carência a derrota é algo, também, questionável. As brasileiras, apesar de tudo, chegaram bem preparadas na Ásia. Poderia citar que na partida diante dos EUA, tivemos um duelo entre a bastante inexperiente Ester contra as “rodadas” jogadoras americanas e o saldo foi bem positivo. Ela dominou o meio-campo. O 1º gol alemão saiu em buraco deixado por Tânia, que tem quatro mundiais e três Olimpíadas nas costas. Apesar do descaso da CBF, o Brasil mantém uma base tanto de jogadoras quanto do esquema, consolidado em Atenas por Renê Simões.
Ubiratan: “Enquanto isso não ocorrer, o Brasil dependerá de sorte para superar a Alemanha. Formar um time forte como o que conquistou o vice mundial foi um pouco disso. Conseguir um pênalti injusto no segundo tempo, também. Mas precisa de mais. Seria mais fácil fazer um projeto sério e não ter de contar com o acaso ou o talento de quem não tem apoio”.
Mozart: Alguns veículos da imprensa alemã avaliaram que a seleção local teve dose de sorte de sair sem tomar gols no 1º tempo e ver Marta perder penalidade, algo muito difícil de repetir na carreira da genial camisa 10. Sem oba-oba “ufanístico”, o Brasil mostrou que tem condições de derrotar qualquer adversário por mérito. Vencer os EUA por 4 a 0 - depois de 51 partidas invictas das americanas - sepulta qualquer dúvida sobre o potencial brasileiro em todos os aspectos do jogo. A penalidade também foi bem clara, com uma carga pelas costas na Cristiane.
Enfim, o velho clichê "perdeu no detalhe" até caberia após uma partida como a da final do Mundial. A linha foi muito tênue entre as equipes para atribuirmos de forma seca a um fator A ou B, embora a considerar todos os problemas que essas meninas têm para exercer sua profissão e a série de reivindicações para a melhoria de um quadro ainda muito aquém do necessário. Situações graves e crônicas que, certamente, dificultam as conquistas desses espetaculares resultados internacionais.
Por outro lado, o cenário nos próximos anos parece ser favorável para a seleção, dada a juventude de suas estrelas, e a aparente falta de renovação qualificada dos adversários. A (falta de) estrutura, os investimentos pífios “patrocinados” pela administração desastrada da CBF, comprometem a modalidade quando pensamos em longo prazo, mas a seleção brasileira conseguira sublimar parte disso, por ter um grupo talentoso e esforçado, onde três meses de treinamentos intensivos puderam modificar o quadro, como vimos nesse 2007.
Ubiratan: “Sim, o Brasil perdeu por inferioridade tática. A Alemanha esteve muito mais organizada em campo e sabia como tirar proveito dos pontos fracos do Brasil.”
Mozart: Não vi superioridade tática de nenhum dos lados. Houve alternâncias num duelo de imposição de estilos, e a Alemanha aproveitou o melhor momento no início da etapa complementar numa intensa marcação por pressão. Escapou ilesa do domínio brasileiro no 1º tempo.
Aliás, esse Brasil apresentou uma organização e uma disposição física inacreditáveis para uma equipe que pouco treinou e jogou desde Atenas. Não ficou devendo para nenhuma seleção nesses aspectos. Não foi apenas uma “reunião de talentos” como jogadoras e comissão técnica dos EUA, talvez, equivocadamente, pensassem antes da derrota.
Ubiratan: “Uma das razões para a inferioridade tática do Brasil é simples: falta campeonato aqui. A seleção brasileira não existe como time (é formada quando há torneio importante, mas não disputa torneios menores ou amistoso constantemente) e muitas das jogadoras não têm experiência de jogo competitivo. Assim, dificuldade em se adaptar à partida e lapsos de concentração são mais comuns.”
Mozart: Reitero que não vi inferioridade tática, nem física e muito menos técnica (surpreendente, dada a situação caótica até três meses atrás). Tanto que o que a Alemanha fez no 1º tempo foi respeitar o Brasil e dar a posse de bola, ao tentar correr o menor risco possível e especular nas saídas em velocidade. A falta de campeonatos, amistosos e maior experiência é um dado indiscutível.
Isso conta na estrutura macro, principalmente. Mas atribuir essa carência a derrota é algo, também, questionável. As brasileiras, apesar de tudo, chegaram bem preparadas na Ásia. Poderia citar que na partida diante dos EUA, tivemos um duelo entre a bastante inexperiente Ester contra as “rodadas” jogadoras americanas e o saldo foi bem positivo. Ela dominou o meio-campo. O 1º gol alemão saiu em buraco deixado por Tânia, que tem quatro mundiais e três Olimpíadas nas costas. Apesar do descaso da CBF, o Brasil mantém uma base tanto de jogadoras quanto do esquema, consolidado em Atenas por Renê Simões.
Ubiratan: “Enquanto isso não ocorrer, o Brasil dependerá de sorte para superar a Alemanha. Formar um time forte como o que conquistou o vice mundial foi um pouco disso. Conseguir um pênalti injusto no segundo tempo, também. Mas precisa de mais. Seria mais fácil fazer um projeto sério e não ter de contar com o acaso ou o talento de quem não tem apoio”.
Mozart: Alguns veículos da imprensa alemã avaliaram que a seleção local teve dose de sorte de sair sem tomar gols no 1º tempo e ver Marta perder penalidade, algo muito difícil de repetir na carreira da genial camisa 10. Sem oba-oba “ufanístico”, o Brasil mostrou que tem condições de derrotar qualquer adversário por mérito. Vencer os EUA por 4 a 0 - depois de 51 partidas invictas das americanas - sepulta qualquer dúvida sobre o potencial brasileiro em todos os aspectos do jogo. A penalidade também foi bem clara, com uma carga pelas costas na Cristiane.
Enfim, o velho clichê "perdeu no detalhe" até caberia após uma partida como a da final do Mundial. A linha foi muito tênue entre as equipes para atribuirmos de forma seca a um fator A ou B, embora a considerar todos os problemas que essas meninas têm para exercer sua profissão e a série de reivindicações para a melhoria de um quadro ainda muito aquém do necessário. Situações graves e crônicas que, certamente, dificultam as conquistas desses espetaculares resultados internacionais.
Por outro lado, o cenário nos próximos anos parece ser favorável para a seleção, dada a juventude de suas estrelas, e a aparente falta de renovação qualificada dos adversários. A (falta de) estrutura, os investimentos pífios “patrocinados” pela administração desastrada da CBF, comprometem a modalidade quando pensamos em longo prazo, mas a seleção brasileira conseguira sublimar parte disso, por ter um grupo talentoso e esforçado, onde três meses de treinamentos intensivos puderam modificar o quadro, como vimos nesse 2007.